Em 1996 eu estava morando em Cambuí MG, nessa época eu tinha acabado de deixar a indústria de calçados Atlântica onde eu trabalhava, e fui viver de serviços autônomos como pintura de fachadas e letreiros. Nessa época eu também ganhava algum dinheiro cantando na noite em barzinho. Num certo dia resolvi colocar o violão nas costas e parti para Monte Verde, cidade turística que fica a 70 km de Cambuí. Chegando lá me deparei com uma Cidade cheia de Chalés e hotéis estilo europeu, e conversando com algumas pessoas sobre meu estilo musical, me indicaram um restaurante que ficava bem próximo dali, então continuei minha caminhada e cheguei em um local todo rústico feito de madeira, as pessoas todas vestidas a caráter e uma placa enorme escrito restaurante O Caipira, me senti em casa e vi que ali era o meu lugar. Subi as escadas e fui até o balcão conversar com a proprietária dona Judith, uma pessoa muito simpática que me atendeu com um sorriso no rosto, disse a ela que eu era um cantor sertanejo e que queria uma chance de mostrar o que sabia fazer. Judith então pensou um pouquinho e disse que nunca havia colocado som ao vivo na casa, então eu disse que seria uma boa hora de fazer um teste e ela disse sim. Tudo estava pronto para começar e ao meio-dia começava a chegar os clientes. Dentro do restaurante havia uma lareira onde eu adotei como meu lugar de apresentação, e ali eu cantei os clássicos sertanejo dos tempos de meu avô e as pessoas ouviam em silêncio enquanto comiam e no final eram chuvas de aplausos. O dia se passou em um domingo de 96 e eu prometi que voltaria no final de semana seguinte para cantar sem compromisso e dessa vez com um olhar mais confiante, dona Judith disse claro que sim. Passei a semana pensando no que eu poderia agradar ainda mais, e como é uma cidade turística eu não poderia me apresentar como um cantor comum e foi então que tive a ideia de ir a caráter e fazer uma surpresa, e aí comprei uma camisa xadrez, fiz alguns remendos e causei o chapéu de palha. No sábado seguinte cheguei em cima do horário e já fui entrando com o som de Chico mineiro de Tonico e Tinoco, todos me olhavam surpresos, pois não havia combinado nada, daquele momento em diante eu adotava um novo estilo, o lugar era fechado e minha extensão de voz é alta, então não havia necessidade de equipamentos de som e eu às vezes caminhava de mesa em mesa cantando os clássicos que tinha a ver com o ambiente. Graças a Deus a vida sempre me levou aos lugares certos com pessoas certas e muitas histórias surgiram para contar ao longo do tempo, pois lá fiquei por 18 anos.

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